sexta-feira, 24 de julho de 2015


Desmatamento revela desenhos no solo



De acordo com descobertas arqueológicas, as escavações nas terras são muito antigas e podem melhorar a compreensão da floresta


Edmar Araújo ainda se lembra do pavor que sentiu. Algumas décadas atrás, enquanto limpava árvores no terreno de sua família, localizado perto da cidade de Rio Branco, um local isolado em um dos cantos do oeste da Amazônia brasileira, ele se deparou com uma série de avenidas de barro esculpidas no solo.
"Estas fileiras eram muito perfeitas para terem sido feitas por um homem", disse Araújo, um pecuarista de 62 anos de idade. "A única explicação que eu conseguia imaginar era que elas eram trincheiras que foram cavadas durante a guerra contra os bolivianos."
Mas estas não eram trincheiras, pelo menos não serviram para nenhum conflito que possa ter ocorrido aqui durante o século 20. De acordo com descobertas arqueológicas feitas na região nos últimos anos, as escavações nas terras de Araújo e centenas como ela em regiões próximas são muito mais antigas do que isso e podem melhorar potencialmente nossa compreensão da maior floresta tropical do mundo.
O desmatamento que atingiu a Amazônia nos anos 70 também expôs um segredo escondido há muito tempo debaixo desta floresta de grande espessura: formas geométricas perfeitamente desenhadas que abrangem centenas de metros de diâmetro.
Alceu Ranzi, um estudioso brasileiro que ajudou a descobrir os quadrados, octágonos, círculos, retângulos e formas ovais que compõem as esculturas de terra, disse que esses geoglifos encontrados em terras desmatadas são tão significativos quanto as famosas linhas de Nazca, os símbolos enigmáticos de animais que são visíveis quando avistados do alto no sul do Peru. 
 "O que mais me impressionou sobre esses geoglifos foi sua precisão geométrica e como eles estavam escondidos em uma floresta que até então nos parecia ser intocada à exceção de algumas tribos nômades que haviam habitado a região”, disse Ranzi, paleontólogo que viu pela primeira vez os geoglifos na década de 70 e, anos mais tarde, observou-os de avião.

Para alguns estudiosos da história humana na Amazônia, os geoglifos existentes no Estado brasileiro do Acre e em outros sítios arqueológicos sugerem que as florestas da Amazônia ocidental, anteriormente considerada inabitável por sociedades mais sofisticadas, em parte por causa da qualidade de seus solos, pode não ter sido tão "Inabitável", como alguns ambientalistas afirmam.
O escritor americano Charles C. Mann explica que ao invés de ter permanecido uma floresta virgem, quase não habitada por pessoas, partes da Amazônia podem ter sido locais aonde grandes populações viviam em dezenas de cidades interligadas por redes de estradas. Na verdade, de acordo com Mann, o explorador britânico Percy Fawcett desapareceu em 1925 em sua busca pela "Cidade Z", que supostamente existia na região de Xingu.
Além de partes da Amazônia terem sido "muito mais densamente povoadas do que se pensava", Mann, o autor de "1491", um livro inovador que fala a respeito das Américas antes da chegada de Colombo, disse que "estas pessoas propositadamente modificavam seu ambiente de uma maneira que pudesse ser duradoura."
Como consequência das vastas regiões habitadas por humanos, é possível que as florestas da América do Sul possam ter sido muito menores durante certos períodos, com grandes áreas vazias semelhantes às savanas.
Tais revelações não se encaixam confortavelmente com os debates políticos atuais a respeito do desenvolvimento da região, em que alguns ambientalistas se recusam a permitir que a pecuária e o cultivo da soja em larga escala, por exemplo, avance ainda mais para outras regiões da Amazônia.
Os cientistas também dizem se opor à queima indiscriminada das florestas, mesmo que a pesquisa sugira que a Amazônia tenha sustentado uma agricultura intensiva no passado. Na verdade, dizem que outras regiões dos trópicos, especialmente a África, poderiam se beneficiar de estratégias antes utilizadas na Amazônia para superar as limitações do seu solo.
"Se alguém quiser recriar a Amazônia da era pré-colombiana, a maior parte da floresta precisa ser destruída, ser populada por muitas pessoas e ter uma agronomia altamente produtiva", disse William Woods, geógrafo da Universidade de Kansas, que faz parte de uma equipe que está estudando os geoglifos do Acre.
"Eu sei que isso não terá uma boa repercussão com os ambientalistas", disse Woods, "mas o que mais se pode dizer à respeito?"
Enquanto os pesquisadores tentam entender a história ecológica da Amazônia, mistério ainda envolve as origens dos geoglifos e as pessoas responsáveis por eles. Até agora, 290 obras escavadas foram encontradas no Acre, junto com cerca de 70 outras na Bolívia e 30 nos Estados brasileiros do Amazonas e Rondônia.
Os primeiros pesquisadores descobriram os geoglifos na década de 1970, depois que a ditadura militar brasileira incentivou colonos a se mudarem para as regiões do Acre e da Amazônia, apoiados pelo slogan nacionalista "Ocupar para não entregar", para justificar o povoamento da área que resultou no desmatamento.
Porém, a comunidade científica demonstrou pouco interesse na descoberta até que o cientista brasileiro Ranzi começou suas pesquisas na década de 1990, e pesquisadores brasileiros, finlandeses e americanos começaram a encontrar mais geoglifos usando imagens de satélite de alta resolução e de pequenos aviões que sobrevoavam a Amazônia .
Denise Schaan, arqueóloga da Universidade Federal do Pará no Brasil, que agora lidera a pesquisa dos geoglifos, disse que testes de radiocarbono indicam que elas foram construídas de 1.000 a 2.000 anos atrás, e podem ter sido reconstruídas várias vezes durante esse período.
Inicialmente, disse Schaan, os pesquisadores consideraram a ideia destas trincheiras serem utilizadas para a defesa contra ataques devido a sua profundidade de quase 7 metros. Mas a falta de provas de que houvesse acorrido algum tipo de assentamento humano dentro e ao redor das trincheiras fizeram com que essa teoria fosse descartada.
Os pesquisadores agora acreditam que os geoglifos podem ter tido uma importância cerimonial, similar, talvez, as catedrais medievais da Europa. Este papel espiritual, disse William Balée, um antropólogo da Universidade de Tulane, pode ter envolvido a "geometria e gigantismo".
Ainda assim, os geoglifos, que fazem parte da cultura andina e amazônica, permanecem um enigma.
Eles estão longe de assentamentos pré-colombianos descobertos em outras partes da Amazônia. Há também grandes dúvidas sobre os povos indígenas que habitaram esta parte da Amazônia na época, já que milhares foram escravizados, mortos ou expulsos de suas terras durante a era da exploração da borracha, que começou no final do século 19.
Para os pesquisadores e cientistas brasileiros, disse Schaan, as trincheiras são "uma das descobertas mais importantes do nosso tempo." Mas o repovoamento desta parte da Amazônia ameaça a sobrevivência dos geoglifos, após de terem permanecido escondidos durante séculos.
Florestas ainda cobrem a maior parte do Acre, mas nas áreas desmatadas onde os geoglifos se encontram, já foram construídas algumas estradas de terras. Pessoas vivem em barracos de madeira dentro de outros. Postes de eletricidade agora fazem parte da paisagem dos geoglifos. Alguns fazendeiros usam suas trincheiras como buracos para que seu gado possa beber água.
"É uma vergonha que nosso patrimônio seja tratado dessa maneira", disse Tiago Juruá, o autor de um novo livro sobre como proteger os sítios arqueológicos, incluindo os geoglifos.

 Juruá, um biólogo, assim como outros pesquisadores, diz que os geoglifos encontrados até agora são, provavelmente, apenas uma amostra do que as florestas do Acre ainda guardam sob sua copa. Afinal, segundo eles, existe hoje o menor número de pessoas habitando a região da Amazônia, menos até do que antes da chegada dos europeus há cinco séculos.


"Esta é uma nova fronteira para os exploradores e para a ciência", disse Juruá. "O desafio agora é fazer mais descobertas nas florestas que ainda estão de pé, com a esperança de que elas não irão em breve ser destruídas."


 No Acre, marcas deixadas no solo intrigam pesquisadores




Quase todos se lembram daqueles círculos que há algum tempo surgiram em diversas plantações na Inglaterra e de outros países e que muitos até hoje acreditam serem obras feitas por seres extraterrestres. O que pouca gente sabe é que aqui no Brasil nós também temos esses sinais, mas que só agora começam a ser revelados.

Com o desmatamento das florestas, motivado principalmente pela pecuária a partir de 1970, grandes estruturas geométricas, chamadas de geoglifos, começaram a ser vistas entre os rios Acre e Iquir. Nos últimos anos, com ajuda de imagens de satélites e de programas gratuitos como "Google Earth", a quantidade de estruturas vistas começou a se multiplicar de tal forma que o assunto passou a ser tema de pesquisa de diversos cientistas.

De fato, quando observadas do alto, de um avião ou satélite, as formas geométricas localizadas na fazenda Colorado e no sítio do seu Jacó, próximos à Boca do Acre (AM), não parecem feitas por seres humanos. Escavadas no solo, aparentemente em baixo relevo, elas formam quadrados, círculos e quadrados com círculos internos. Quando vistas do chão, se parecem com trincheiras.




Seu Jacó Sá, de 84 anos, proprietário de um dos sítios da região, estava certo de que as trincheiras, algumas com mais de 2 metros de profundidade, se tratavam de valas escavadas durante a Revolução Acreana, o movimento armado contra a Bolívia, que em 1903 anexou o Acre ao Brasil. Mas de acordo Marcos Vinicius Neves, arqueólogo do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural, as formas geométricas foram feitas por índios que viveram na região entre 800 e 2.500 anos atrás.

Com o objetivo de estudar mais profundamente as misteriosas marcas, Vinicius e seu colega Alceu Ranzi, paleontólogo da Universidade Federal do Acre, Ufac, foram pessoalmente ao sítio arqueológico, e com ajuda de equipamentos GPS, mediram as coordenadas geográficas de seis geoglifos. Os pesquisadores também coletaram restos de cerâmica encontrados próximos da fazenda Colorado.

As medições mostraram que as estruturas medem entre 113 a 200 metros de diâmetro, e têm entre 30 centímetros a 4,5 metros de profundidade, incluindo-se os muros externos construídos a partir da terra retirada das valetas. Esses geoglifos foram encontrados em três locais diferentes, todos restritos ao Estado do Acre.
As primeiras descobertas dessas marcas ocorreram em 1977, durante a realização do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica, Pro-Napaba, e só foi possível porque a área havia sido desmatada.

Datações feitas pela Universidade Federal Fluminense, em vestígios de cerâmicas encontradas na Fazenda Vaca Branca, no município de Xapuri (AC), revelou que entre 800 e 2.500 anos atrás viveu ali uma tribo indígena. Por trás dessa descoberta há muitas hipóteses, e uma delas é que esses índios tenham chegado ao Acre vindos da região boliviana de Llanos de Mojos.

Para chegar a esta conclusão, Ondemar Dias, pesquisador da mesma universidade, comparou as cerâmicas encontradas ali com peças feitas pelos nativos da região de Llanos de Mojos e encontrou muitas semelhanças entre elas. No entanto, as informações disponíveis até agora não são suficientes para determinar a função dos geoglifos. Uma das hipóteses é que podem ter sido construídos para defender os nativos das tribos rivais ou para guardar todo o húmus usado na agricultura. Outra hipótese é que eram representações míticas, pelas quais os índios acreditavam poder se comunicar com os deuses.

Muito Trabalho

Utilidades à parte, os geoglifos impressionam pela perfeição das formas e a quantidade de pessoas que foram necessárias para desmatar a floresta e escavar a terra. "Hoje em dia um trator levaria um tempo considerável para fazer esse trabalho. Imagine naquela época, que sequer havia instrumentos de metal", diz Alceu Ranzi. A opinião é corroborada por Marcos Vinicius: "Talvez essas obras tenham levado muitos anos para ficarem prontas".

Eram os Deuses Astronautas?

No entanto, mesmo sem terem respostas definitivas para o enigma do geoglifos acreanos, nenhum dos pesquisadores arrisca conclusões fantásticas e se recusam, por exemplo, a falar de extraterrestres como fez o cientista alemão Erich Von Daniken em seu livro "A resposta dos Deuses". Na obra, Daniken afirma que as "Linhas de Nazca", importante legado das antigas culturas pré-incas peruanas, se tratavam na realidade de sinais e pistas de aterrissagem para naves extraterrestres.


Mais Divulgação

O assunto tem atraído a atenção de muitos cientistas de várias partes do mundo, que agendam visitas para estudar e debater o assunto. Por outro lado, Marcos e Ranzi acreditam na possibilidade dos sítios arqueológicos se tornarem uma atração turística, a exemplo do que aconteceu com as Linhas de Nazca. Segundo eles, a divulgação desses achados seria fundamental para que isso acontecesse.

























































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